Pesquisa demonstra impacto da endometriose na vida profissional

Pesquisa demonstra impacto da endometriose na vida profissional

15/11/2014

Um artigo publicado no European Journal of Obstetrics & Gynecology and Reproductive Biology concluiu que a endometriose exerce forte impacto negativo na vida profissional feminina. A doença causa, entre outros sintomas, cólicas severas, infertilidade, dores durante as relações sexuais, bem como ao evacuar e urinar. Estima-se que 7 milhões de mulheres sofram do distúrbio no Brasil.

Para chegar ao resultado, os pesquisadores entrevistaram 610 dinamarquesas com endometriose e 750 sem o problema, das quais 487 e 583, respectivamente, disseram ter sentido dores no mês anterior ao levantamento. Os relatos de faltas e dificuldade para efetuar suas atribuições foram 50% mais frequentes entre as portadoras da enfermidade, e a avaliação da capacidade de trabalho como péssima foi quase duas vezes superior.

“A investigação é muito interessante e vem para reforçar a percepção clínica dos médicos que convivem diariamente com pacientes nessa situação”, analisa o ginecologista Marco Aurélio Pinho de Oliveira, chefe do Ambulatório de Endometriose do Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (HUPE-UERJ). Ele descreve a endometriose:

“Trata-se de um processo inflamatório decorrente do crescimento das células que revestem o interior do útero em outras regiões do organismo. Diversos órgãos do sistema reprodutivo e até mesmo o intestino podem ser acometidos”.
Sentindo na pele

Hoje tratada, a nutricionista Vivian Guimarães, 39 anos, também afirma que nos períodos de dor mais intensa, quando não precisava faltar ou sair mais cedo, o desempenho caía drasticamente. “Presto consultoria para um hotel no Rio de Janeiro. A função exige visitas a câmaras frigoríficas, fiscalização da cozinha industrial, realização de treinamentos, ou seja, passo muito tempo em movimento. Mesmo com remédios, era insuportável”, lembra.

Outra questão com a qual conviveu foi o comportamento das colegas, que duvidavam da veracidade das suas queixas. “Como era um ambiente predominantemente feminino, a maioria dizia sentir cólicas e me apontava como fresca”, desabafa.

O depoimento é referendado pela pesquisa, que demonstrou que até mesmo profissionais de saúde classificam as mulheres com endometriose como pessoas histéricas, psicossomáticas e em busca de atenção.

Atraso

Vivian começou a sentir os incômodos após a primeira menstruação, aos 10 anos, mas só recebeu o diagnóstico aos 27. Nesse ínterim, procurou diversos médicos, teve as dores atribuídas a um cisto no ovário e se submeteu a duas cirurgias. “Em ambas, me abriram e fecharam sem fazer nada”, lamenta.

A detecção tardia, infelizmente, é comum: em média sete anos de demora, de acordo com estudos internacionais. As principais razões são a crença de que sentir dor na menstruação é normal e a inespecificidade do quadro clínico.
Os métodos mais importantes para a identificação da endometriose, explica Marco Aurélio Pinho de Oliveira, são a ressonância magnética com preparo retal e a ultrassonografia especializada com preparo retal. A certeza, no entanto, só é dada por meio da laparoscopia, cirurgia minimamente invasiva que permite retirar e fazer a biópsia das lesões.

“O procedimento consiste na introdução de uma microcâmera através de um pequeno corte no umbigo e na manipulação da cavidade abdominal com instrumentos delicados”, detalha. O ginecologista destaca que a técnica traz resultados excelentes, mas somente se realizada por equipe especializada, algo que Vivian ainda não havia encontrado. “Ao contrário do que ocorreu nas outras duas operações, ela experimentou uma melhora significativa”, testemunha.

Tratamento hormonal

Na medida em que o estabelecimento da endometriose necessita da presença da menstruação, contraceptivos hormonais de uso contínuo reduzem o desconforto característico do período menstrual.

“As mulheres que não responderem positivamente, contudo, devem fazer a laparoscopia. E aquelas que pretendem engravidar têm duas alternativas: a laparoscopia ou, se não houver dor, a fertilização in vitro”, esclarece Marco Aurélio Pinho de Oliveira.

*Com informações da Universidade do Estado do Rio de Janeiro

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