Embora a literatura sobre dieta e endometriose seja pequena e algumas vezes inconsistente, os estudos científicos de endometriose e os estudos científicos da nutrição aliados à experiência clínica mostram que é possível abrir um caminho complementar no tratamento, promovendo, através da reeducação alimentar e alterações no estilo de vida da paciente, melhoras significativas no seu estado geral de saúde.
A adequação do peso corporal e da sua compleição física (percentual de gordura corporal) é o primeiro passo para reconquistar esse equilíbrio. Sabemos que as células gordurosas são grande produtoras de substâncias (citocinas) inflamatórias e que a presença de focos de endometriose também aumenta a produção dessas mesmas citocinas.
O segundo passo é adequar o consumo de gorduras da dieta, ou seja, adequar as frações lipídicas da dieta, reduzindo o consumo de gorduras saturadas presentes em alimentos de origem animal, principalmente carnes gordurosas de gado, pele de frango, laticínios, embutidos, congelados, etc. Excluir gorduras transaturadas presentes principalmente em alimentos industrializados (pães, biscoitos, sorvetes, doces, etc) e frituras já é um grande exercício. Concomitantemente aumentar o consumo de gorduras saudáveis, fontes de ômega 3 e ômega 9, ou seja, aumentar o consumo de óleo de azeite extra virgem, óleos vegetais extra virgem, prensa a frio de sementes ou castanhas, peixes, abacate, castanhas, sementes, etc.
Muitos trabalhos já comprovaram a eficiência da modulação dos ácidos graxos na dor pélvica, e que o consumo de ácidos graxos da dieta pode modular a formação de citocinas inflamatórias Ácidos graxos ômega-6 são precursores de substancias inflamatórias (prostaglandinas da série 2) que estimulam a contração uterina e a vasoconstrição (pioram os quadros de dor pélvica) e ácidos graxos ômega-3 são precursores de substancias de caráter não inflamatório (prostaglandinas da série 3). Acidos graxos poliinsaturados-ômega-3 também excercem efeito imunomodulador, ou seja, melhoram a resposta imunológica do organismo.
Terceiro passo, substituir o consumo de carboidratos de alto índice glicêmico ( açúcar, doces, farinhas refinadas e seus sub-produtos da panificação ) por carboidratos de baixo índice glicêmico como cereais integrais, verduras, legumes e frutas !
Tanto que um dos trabalhos cientificos precursores sobre endometriose e nutrição Parazzini et al. (2004), consolida a relação dieta e endometriose. Neste estudo constatou-se uma redução no risco de endometriose observada nas mulheres que consumiam vegetais verdes e um aumento significativo de endometriose entre as mulheres consumidoras de carnes vermelhas e presunto.
A endometriose é uma doença estrógeno-dependente e uma das formas de equilibrar o excesso de estrogênio produzido é através do consumo de alimentos fonte de fitoestrogenios e fibras dietéicas. O estrógeno deve estar conjugado para ser eliminado . Transtornos intestinais como a constipação intestinal permitem que enzimas beta-glucoronidades liberadas por bactérias patogênicas intestinais promovam o desconjugamento do estrógeno e permitam sua reabsorção. A correção da disbiose intestinal é importante para reestabelecer a integridade e funcionalidade do trato gastrointestinal e reduzir os quadros de hiperpermeabilidade da mucosa intestinal. Uma das maneiras de corrigir esse quadro é através do consumo de fibras alimentares, especialmente fibras prebióticas (alimentos ricos em inulina e frutooligossacarídeos), próbioticos , hidratação e mastigação adequada também são necessárias, assim como a redução do consumo de açúcares e frituras (ADA).
O álcool e a cafeína também são alvos de estudos associados e correlacionados ao estilo de vidas das mulheres portadoras de endometriose.
Anormalidades do sistema endócrino, como endometriose, cistos ovarianos e de mama, infertilidade, miomatose uterina, síndrome pré-menstrual e câncer de mama e ovário podem estar associados à ação potencializada por combinação (biomagnificação) de vários componentes, entre eles PCBs, dioxina, benzopirenos, percloretileno (processo de lavagem à seco), metais tóxicos (chumbo, mercúrio e cádmio), micoestógenos produzidos por fungos intestinais e produtos de uso doméstico oriundos da degradação de detergentes e surfactantes associados, incluindo nonifenol e octilfenol.
É possível, por meio da Nutrição, dar suporte ao organismo nos processos de remoção ou neutralização de toxinas a partir do consumo de nutrientes e fitoquímicos presentes em alimentos como couve de bruxelas, chá verde, brássicas (agrião, brócolis, couve de bruxelas, couve-flor, couve-manteiga, mostarda, nabo, rabanete, repolho, rúcula, cebola, alho, etc ), cúrcuma, chás e ervas naturais, frutas , legumes, verduras e raízes, etc.
Enfim, o hábito alimentar pode influenciar positiva ou negativamente nos quadros de endometriose! Toda orientação e cuidado devem estar presentes na seleção e no consumo dos alimentos! Bom apetite!
Fonte: IAPE