Endometriose: nova esperança | Dr. Frederico Correa
Pesquisas sugerem droga nova para um mal que afeta a fertilidade e pode resultar em depressão

Pelo menos uma em cada 12 brasileiras sofre dessa doença comum, crônica, desconfortável, e associada a alta prevalência de infertilidade e de distúrbios psiquiátricos, tais como depressão.
Basicamente, a endometriose e seus sintomas resultam do crescimento de células, normalmente encontradas na parte interna do útero, chamada de endométrio, em órgãos fora do útero. Os locais mais frequentes da implantação anômala dessas células são a cavidade abdominal, o intestino, o diafragma, a bexiga.

Apesar de ser uma doença benigna, não cancerosa, ela causa irregularidades menstruais, dores abdominais e pélvicas e infertilidade. É comum nas pacientes portadoras de endometriose a depressão, problemas de relacionamento afetivo e sexual e elevada frequência de absenteísmo no emprego devido a sintomas intensos.

Sabe-se que as células da endometriose dependem fundamentalmente dos hormônios femininos, estrógenos, para se proliferarem. O tratamento dessa doença geralmente é clínico, com medicamento. A cirurgia pode ajudar a diminuir os sintomas em algumas pacientes. Apesar desses tratamentos, muitas pacientes ainda sofrem por muitos anos.

Esta semana foi publicado, na prestigiosa revista New England Journal of Medicine, um estudo utilizando um novo medicamento, o Elagolix, que consegue bloquear e praticamente suprimir o estrógeno das pacientes. O doutor Hugh Taylor, líder dessa pesquisa internacional (um dos autores do estudo é o doutor Maurício Abrão, ginecologista do Hospital Sírio-Libanês em São Paulo), incluiu 872 pacientes com endometriose grave.

Elas foram sorteadas entre duas doses de Elagolix, e comparadas com um grupo que recebeu somente comprimidos idênticos de placebo, sem efeito biológico. As pacientes e os médicos não sabiam, durante o estudo, se estavam recebendo o Elagolix ou o placebo (estudo duplo cego).

Após três meses, as pacientes foram avaliadas quanto à melhora dos sintomas de dores e de alterações menstruais. Os cientistas observaram uma importante e significativa melhora dos sintomas das pacientes quando receberam Elagolix (46% das voluntárias na dose baixa e 76% na dose alta de Elagolix, comparadas com melhora observada de 19% e 22% com placebo, respectivamente). A melhora desses sintomas persistiu, em muitas pacientes, por seis meses.

Tal tratamento, no entanto, foi associado a efeitos colaterais e sintomas de menopausa, como calores e fogachos, elevação do colesterol, e de osteopenia e osteoporose. Este novo bloqueador de estrógenos, tomado por boca, pode ser uma excelente opção em pacientes com endometriose grave e crônica, e sua indicação deverá ser discutida com ginecologista, tanto em suas vantagens quanto em seus efeitos colaterais nada desprezíveis.

Fonte: Carta Capital

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